O Processo civilizatório implica na capacidade humana de
educar seus instintos de tal sorte que a conduta das pessoas seja sempre
norteada para um benefício coletivo maior que qualquer interesse individual, e
por isso mesquinho. Desta forma podemos afirmar que a atual onda consumista
exacerbada pelos interesses capitalistas se trata de uma ameaça às conquistas
históricas da humanidade, algumas ainda não devidamente internalizadas
subjetivamente em nosso atual estágio de desenvolvimento.
A perda do foco no ser humano como fim último e inestimável
de valoração junto com a fetichização das coisas (principalmente na criação de
aparatos tecnológicos), constituem um retrocesso humanístico no que tange a
perda do sentimento de solidariedade. Desta forma o sistema, assim como um
vampiro, tem em vista a juventude com energia e inteligência criativa para
alienar seus desejos em função dos mercados, ou seja, precisa sempre de sangue
e de sangue novo. A velha acertiva da lei da selva ou a lei do mais forte,
ganha novo fôlego e sofisticação frente a impessoalidade, desumanização e em
suma à lógica de movimentação dos capitais e mercados.
A ficção chamada de “pessoa jurídica” se tornou mais
importante que a pessoa humana, e apesar de ser constituída também por seres
humanos, os interesses da pessoa jurídica são opostos aos da humanidade. Talvez
porque a pessoa jurídica sintetize os medos e inseguranças de seus acionistas,
sócios e simpatizantes por conveniência, somados a sua voracidade e ganância,
ou seja, é a porta de entrada para o inferno criador de todas as mazelas que
assolam os mais pobres, indefesos, excluídos, aqueles que não têm condição de
ser um capitalista tanto por falta do capital como por acreditarem no valor do
trabalho enquanto meio de transformação da natureza e do caráter ao contrário
dos especuladores que tentam levar vantagem dentro das bolsas de valores ou dos
inescrupulosos que para aumentarem seus lucros abrem mão de sua
responsabilidade social e da ética, alienando-se completamente à ficção
desumanizante do sistema que tem por valor primordial o acúmulo de capital e
poder político. Tal como uma divindade este sistema não é questionado, apenas
seguido cegamente por aqueles que acumularam frações de poder por meio dele e
querem nos fazer acreditar que se trata da única via possível para a vida; ou
seja, quem esta ganhando o jogo quer obrigá-lo para todos.
O caminho que seguimos indica que o limiar desta consciência e sua
transformação em atitudes para novos rumos da humanidade somente se dará em um
momento de futura e profunda crise, na qual os mais empobrecidos perecerão
seguindo os ditames do darwinismo social. Neste momento os poucos abastados que
sobrarem protegidos em seus “bunkers” se perguntarão perplexos “Onde foi que
nós erramos?” Entretanto são estes os que terão o poder para reconstruir a
humanidade. Passarão adiante seus genes. Afinal não é esta a finalidade
subjacente da Lei da Selva ? Isto ocorrerá às custas de um genocídio que terá
sido provocado pela Ignorância humana; ignorância essa que sobreviveu a todos
os avisos dos grandes pensadores da humanidade e que encontrou seu expoente
máximo e mais cruel na lógica de atuação do capitalismo.
Oi Mar, temendo que esse "final" não esteja tão próximo assim, fico me perguntando, angustiada, como construir pequeninos mas não menos grandiosos, "espaços saudáveis" onde viver com mais justiça, mais amor e mais valores humanos será algo real e palpável. Às vezes, acho que a arte me aponta caminhos para isso, às vezes sinto que não, pelo contrário... Inspirador seu texto. Obrigada!!!
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