quarta-feira, 6 de junho de 2012


   Em meio a tantos relatos referente à falta de respeito no trânsito, tanto no que toca aos pedestres e ciclistas, quanto aos motoristas e motociclistas.
  Se tem a clara noção de que os espaços públicos no meio urbano não estão suprindo a demanda que a concentração populacional exige para que se tenha segurança e eficiência ao exercitarmos nosso direito fundamental de ir e vir.
   As ruas e calçadas nas nossas cidades foram moldados para atender somente aos veículos automotores, desprezando totalmente a possibilidade de locomoção útil por meio de ciclovias, hidrovias ou mesmo a pé.

  Senão vejamos outros fatores, como a concentração de renda nos grandes centros, empurrando um exército de pessoas empobrecidas* para morar nas mais longínquas periferias. Estas mesmas pessoas que têm suas residências em áreas cada vez mais afastadas dos centros urbanos, conseguem melhores empregos e oportunidades, nas regiões mais ricas, onde circula mais dinheiro e as possibilidades parecem estar ao alcance de todos. Correndo atrás de seus sonhos e ilusões este contingente populacional necessita se locomover diariamente por distâncias cada vez maiores e por mais tempo.
   A mão-de-obra dos que vêem de longe é mais barata, sedimentando ainda mais a lógica da concentração de renda nas regiões mais abastadas.

  Esta lógica perversa faz com que surjam muitos discursos equivocados e até mesmo hipócritas. Ao mesmo tempo em que se noticiam mortes de ciclistas nas ruas e os constantes recordes de congestionamento, o Estado tem por prioridade a redução do IPI sobre os automóveis, para que as montadoras consigam vender seus estoques de veículos, ou seja, o Estado deixa de arrecadar um imposto que deveria ser revertido em prestações de serviço para toda a sociedade, principalmente quando pensamos no escandaloso déficit que temos em saúde, educação, saneamento básico, entre outros mais; revertendo em benefício de uma classe econômica mais abastada que quer e pode comprar automóveis, muitas vezes por questões de status e fetiche e não por real necessidade de locomoção; e ainda, favorecendo de outro lado o lucro das montadoras. Outros tantos que se apertam em transportes públicos urbanos agradecerão a “oportunidade” de se endividarem pelos próximos dez anos ou mais, para comprarem uma condução que irá engrossar os congestionamentos diários de um espaço urbano sufocado pela poluição, desfigurado de sua essência pela selvageria da vicissitude imediata, que constitui um meio ambiente hostil a toda condição de florescimento de qualquer sensibilidade por parte daqueles que já se encontram entorpecidos diante do confronto diário nesta verdadeira zona de guerra.

   Propomos que se aumente o IPI dos automóveis e que se utilize este dinheiro extra para adaptar o espaço urbano para o cidadão que deseja utilizar meios de transporte mais civilizados que o automóvel. Que se diminua a quantidade de veículos individuais e que a qualidade dos transportes coletivos seja tal que não se tenha receios em utilizar os mesmos, pois sempre se terá um mínimo de dignidade e segurança. Utopia a proposta uma vez que vivemos da produção e consumo de petróleo e o Lobby das montadoras de veículos é extremamente poderoso em nosso tão corrupto meio político. Condicionados ao individualismo e com os desejos moldados pelas mais refinadas agências de publicidade do mundo, desejamos mais e maiores veículos, para que nosso ego infantilizado e mal educado caiba neles.

  Que se desenvolvam as periferias de tal forma que as pessoas não precisem peregrinar diariamente em busca de dias melhores, que encontrem oportunidades mais próximo de onde vivem, isto implica diretamente na simples distribuição de renda... outra utopia....

*Este empobrecimento se dá devido a questões políticas e econômicas que criaram esta mesma concentração de renda nos grandes centros urbanos.