Em
meio a tantos relatos referente à falta de respeito no trânsito, tanto no que
toca aos pedestres e ciclistas, quanto aos motoristas e motociclistas.
Se
tem a clara noção de que os espaços públicos no meio urbano não estão suprindo
a demanda que a concentração populacional exige para que se tenha segurança e
eficiência ao exercitarmos nosso direito fundamental de ir e vir.
As
ruas e calçadas nas nossas cidades foram moldados para atender somente aos
veículos automotores, desprezando totalmente a possibilidade de locomoção útil
por meio de ciclovias, hidrovias ou mesmo a pé.
Senão
vejamos outros fatores, como a concentração de renda nos grandes centros,
empurrando um exército de pessoas empobrecidas* para morar nas mais longínquas
periferias. Estas mesmas pessoas que têm suas residências em áreas cada vez
mais afastadas dos centros urbanos, conseguem melhores empregos e
oportunidades, nas regiões mais ricas, onde circula mais dinheiro e as
possibilidades parecem estar ao alcance de todos. Correndo atrás de seus sonhos
e ilusões este contingente populacional necessita se locomover diariamente por
distâncias cada vez maiores e por mais tempo.
A
mão-de-obra dos que vêem de longe é mais barata, sedimentando ainda mais a
lógica da concentração de renda nas regiões mais abastadas.
Esta
lógica perversa faz com que surjam muitos discursos equivocados e até mesmo
hipócritas. Ao mesmo tempo em que se noticiam mortes de ciclistas nas ruas e os
constantes recordes de congestionamento, o Estado tem por prioridade a redução
do IPI sobre os automóveis, para que as montadoras consigam vender seus
estoques de veículos, ou seja, o Estado deixa de arrecadar um imposto que
deveria ser revertido em prestações de serviço para toda a sociedade,
principalmente quando pensamos no escandaloso déficit que temos em saúde,
educação, saneamento básico, entre outros mais; revertendo em benefício de uma
classe econômica mais abastada que quer e pode comprar automóveis, muitas vezes
por questões de status e fetiche e não por real necessidade de locomoção; e
ainda, favorecendo de outro lado o lucro das montadoras. Outros tantos que se
apertam em transportes públicos urbanos agradecerão a “oportunidade” de se
endividarem pelos próximos dez anos ou mais, para comprarem uma condução que
irá engrossar os congestionamentos diários de um espaço urbano sufocado pela
poluição, desfigurado de sua essência pela selvageria da vicissitude imediata,
que constitui um meio ambiente hostil a toda condição de florescimento de
qualquer sensibilidade por parte daqueles que já se encontram entorpecidos diante
do confronto diário nesta verdadeira zona de guerra.
Propomos
que se aumente o IPI dos automóveis e que se utilize este dinheiro extra para
adaptar o espaço urbano para o cidadão que deseja utilizar meios de transporte mais
civilizados que o automóvel. Que se diminua a quantidade de veículos
individuais e que a qualidade dos transportes coletivos seja tal que não se
tenha receios em utilizar os mesmos, pois sempre se terá um mínimo de dignidade
e segurança. Utopia a proposta uma vez que vivemos da produção e consumo de
petróleo e o Lobby das montadoras de veículos é extremamente poderoso em nosso
tão corrupto meio político. Condicionados ao individualismo e com os desejos
moldados pelas mais refinadas agências de publicidade do mundo, desejamos mais
e maiores veículos, para que nosso ego infantilizado e mal educado caiba neles.
Que
se desenvolvam as periferias de tal forma que as pessoas não precisem
peregrinar diariamente em busca de dias melhores, que encontrem oportunidades
mais próximo de onde vivem, isto implica diretamente na simples distribuição de
renda... outra utopia....
*Este
empobrecimento se dá devido a questões políticas e econômicas que criaram esta mesma
concentração de renda nos grandes centros urbanos.